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Imagine a seguinte cena: você entra em um restaurante e chama o garçom. Depois de anotar seu pedido, ele cobre seus olhos com uma venda e, sem muita demora, seu prato é servido às escuras. Tudo até parece ter o mesmo cheiro, mas sem saber de onde veio ou o que poderia acontecer ao provar desse prato, você comeria?
Todos os dias, milhares de brasileiros se alimentam de alimentos transgênicos, sem sequer saber o que isso significa. Transgênicos, ou organismos geneticamente modificados (OGM), são seres vivos criados em laboratório a partir da mistura com genes de outros organismos. A ciência é capaz de fazer cruzamentos entre espécies que jamais aconteceriam em um ambiente natural, como uma bactéria com um vírus, um animal com um inseto, uma planta com uma bactéria. Desta forma, é possível criar seres completamente novos, que não existem na natureza.
Os OGM começaram a ser utilizados em larga escala a partir de 1997, mas apenas 3 tipos são comercializados: os criados para resistir a um determinado agrotóxico, os que possuem propriedades inseticidas e os que combinam essas duas características. O mito criado de que os transgênicos comercializados são mais produtivos, possuem mais nutrientes ou resistem a secas e chuvas é falso. Eles acarretam uma série de impactos no meio ambiente e na saúde humana, que vão desde alergias ao aumento da utilização de agrotóxicos e a contaminação genética da natureza.
O Prof. Dr José Roberto Goldim, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentou em uma palestra [1] dados sobre o conhecimento e aceitação de alimentos trangênicos em mercados da Europa. O resultado é que países que têm maior grau de conhecimento sobre trangênicos, como Suécia, Dinamarca, Reino Unido e França são os mesmos que não permitem a utilização agrícola destes produtos nem reconhecem benefícios nestes alimentos. Em contrapartida, países com menor grau de conhecimento, como Portugal, Espanha e Itália são os que possuem maior produção e venda de trangênicos para a população.
A produção de alimentos transgênicos no Brasil começou de forma ilícita: até o final de 2003, os produtores de soja não estavam autorizados a plantar soja transgênica [2] – apesar de já o terem feito em safras anteriores. Porém, uma medida provisória do governo federal autorizou o plantio e comercialização da soja Roundup Ready®, da Monsanto, até o dia 31 de dezembro de 2004. A empresa foi liberada pelo CNTBio para a produção das sementes de soja mesmo sem um estudo dos prováveis impactos ambientais [3] causados pelo cultivo.Como a Monsanto é a detentora dos royalties desta variedade de sementes de soja, cada sojicultor teve de pagar uma taxa para
utilizar a nova tecnologia, conforme anúncio divulgado pela própria Monsanto [4], muito antes de ser assinada a medida provisória do governo.
Entre os principais problemas ambientais relacionados aos transgênicos, está a contaminação genética através do cruzamento entre uma espécie comum e um OGM. Caso um passarinho, por exemplo, recolha o pólem de uma planta modificada geneticamente e o leve até uma outra planta, poderá ocorrer um cruzamento não-natural, já que os genes da planta trasngênica irão se sobrepor aos da planta convencional. Esses genes modificados podem ser de qualquer espécie e gerarem mutações imprevisíveis e incontroláveis. A soja da Monsanto, por exemplo, foi criada a partir da mistura de genes de soja com os de vírus, bactérias e uma flor. Além disso, as sementes são estéreis, ou seja, elas servem para o plantio de uma safra, mas as sementes geradas a partir desta safra não servem para o plantio, o que garante o monopólio no mercado de sementes transgênicas.
Os efeitos destes alimentos na saúde humana ainda não foram suficientemente estudados para que se possa afirmar que é seguro ingerí-los. Mas o aumento no uso de agrotóxicos para combater pragas que se tornaram resistentes não é um sinal positivo. A Agência Nacional de Vigilância Santitária [5] teve que permitir um aumento de 50 vezes a quantidade de resíduo de agrotóxicos em plantações de soja transgênica. Também já foi obervado um aumento das reações alérgicas a esses alimentos. A coordenadora da campanha de engenharia genética do Greenpeace Brasil, Gabriela Vuolo, acredita que a comercialização de produtos de matéria prima transgênica – mesmo quando não se sabe ao certo as consequências – são um tipo de experimentação com humanos, o que pode ser considerado como antiético. “Estamos servindo de cobaias. Os campos de transgênicos são verdadeiros experimentos a céu aberto”, diz Gabriela.
Desde 2004 existe um decreto que obriga as empresas de alimentos a informarem a população se o produto é fabricado com ingredientes transgênicos. No rótulo do alimento deve constar um triângulo amarelo com a letra T, em preto, indicando que possui mais de 1% de matéria prima geneticamente modificada. Apesar da data da vigoração da lei, apenas em 2008, após uma denúncia do Greenpeace junto ao Ministério Público, os óleos de soja Soya e Primor, fabricados pela Bunge, e os óleos Liza e Veleiro, fabricados pela Cargill começaram a ser rotulados. “Na prática, todos os produtos feitos com a mesma matéria-prima deveriam ser rotulados também: é o caso de margarinas, maioneses, molhos para salada, etc”, informa Vuolo.
Outra liberação comercial de transgênicos no Brasil é a do milho da empresa Bayer. O milho é um dos principais alimentos consumidos pelos brasileiros e o cultivo transgênico pode trazer impactos ambientais ainda maiores que o da soja, já que a polinização cruzada do milho favorece uma maior contaminação genética. Dá para se ter uma idéia da catástrofe para a biodiversidade brasileira caso o milho transgênico seja produzido em larga escala.
A questão dos transgênicos não pode ser uma discussão meramente comercial, e é obrigação das autoridades competentes primar pela saúde e informação da população e pela preservação da nossa natureza. A informação é o primeiro passo para que cada vez mais pessoas exijam o direito de saber se o produto que estão comprando usa ou não transgênicos.
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PARA SABER MAIS:
Greenpeace. Campanha contra alimentos transgênicos
Organismos geneticamente modificados: a face não revelada pela ciência
Conselho de fiscalização do cumprimeto da lei de transgênicos
Legislação, Decreto-Lei da Anvisa sobre alimentos transgênicos
A visão da Monsanto sobre a produção de soja transgênica
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1 - [http://www.ufrgs.br/bioetica/transg1.htm]
2 - [http://www.cpovo.net/jornal/A108/N355/HTML/DENISE.HTM]
3 - [http://www.cpovo.net/jornal/A108/N359/HTML/14MONSAN.htm]
4 - [http://www.cpovo.net/jornal/A108/N351/PDF/Fim05.pdf]
5 - [http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/index.htm]
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Este post está participando do Projeto Blogueiro Repórter.
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8 comentários:
A verdade é que não se sabe os efeitos a longo prazo disso.
Assim foi com a doença da "vaca louca" que levou 10 anos para se manifestar nas vacas e outros 10 para aparecer nos seres humanos.
Parabéns pela sua participação!
Excelente post! Muito esclarecedor.
Também estou participando do Blogueiro Reporter.
Ótima postagem... e, vale dizer, excelente escolha de ilustrações. Parabéns.
Acho que o maior problema nem são os efeitos em humanos. Acho que o uso de genes como o do "juízo final". Onde as sementes não germinam (feito pela Monsanto) é o mais perigoso. Pois um vírus pode "roubar" esse seqüência específicas e contaminar outras plantas; levando a sua extinção.
Brincar de Deus normalmente nunca dá muito certo.
Sou a favor dos transgênicos, mas sem coisas exageradas como essa.
Poxa, assim fica difícil defender os transgênicos.
Eu pensava que sim, transgênicos eram justamente para ajudar a produtividade criando plantas que não precisassem de pesticidas pra sobreviver a prgas e coisas do tipo.
Mas essa coisa das sementes inférteis é realmente problemática, foi uma alteração irresponsável. Esse tipo de coisa ainda vai colocar a ciência em maus lençóis...
Enfim, acredito que isso tudo seja porque a tecnologia ainda é nova(relativamente, sim), e algum dia vai estabilizar de forma realmente boa. Os primeiros aviões também não deviam ser a coisa mais segura do mundo...
Aqui na Itàlia existe um tipo de laranja chamada clementine que jà nao possui mais sementes... obra da Monsanto para que todos os agricultores que quiserem cultivar essa fruta tenha que comprar sementes deles. Sem contar que, como jà foi dito, nao se sabe o que esses alimentos causam no ser humano... O negòcio é cada um cultivar suas pròprias frutas e verduras...
Otimo post!
Torço para o seu post ser selecionado.
Foi um dos melhores de toda a blogagem.
Um abraço e um bom final de semana!
O lobby das multinacionais dos transgênicos através da bancada ruralista do senado quer alterar o projeto de lei dos transgênicos que obrigava a rotulagem e identificação dos produtos que continham organismos geneticamente modificados. Isso é ridículo! Querem nos obrigar a comer o que não queremos!
Para quem ainda não leu e quer se informar mais, indico o livro da Marie-Monique Rodin, Le Monde Selon Monsanto.
Transgênicos Não (http://transgenicosnao.blogspot.com)
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