12.5.08

A importância da internet para o rock

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Desde que a internet foi criada, ela tem sido a maior aliada das bandas que optam por se manterem independentes das gravadoras. Também possibilitou que pessoas comuns criassem seus próprios veículos jornalísticos e ajudassem a divulgar as centenas de vertentes da música. Apesar de encurtar distâncias e facilitar as coisas para todo mundo, a internet ainda não é completamente compreendida como mídia, apesar de sua notável importância para o rock.



Segundo pesquisa do IBGE, existem 40 milhões de usuários de internet no Brasil, dos quais 22 milhões acessam de casa. Além disso, o país está no topo da lista dos que passam mais tempo conectados, com 22h por mês e 14,4 milhões de pessoas usam a internet para obterem informações e notícias. Com todos esses dados em mãos, fica cada vez mais fácil afirmar a influência que a internet pode alcançar em setores que a grande mídia (entenda-se televisão, jornais e revistas) não alcança. Estilos musicais underground, como o rock, especialmente em algumas vertentes menos populares como o heavy metal e o indie-rock, isso é sentido com maior intensidade.


Felizmente, a internet consegue sanar boa parte da necessidade das bandas em se tornarem conhecidas. Ferramentas como o Myspace e o Orkut se tornaram obrigatórias no esquema de divulgação de uma banda, e funcionam também como substitutos dos sites com domínio próprio para aquelas que não dispõem de recursos. Thaís Lopes, designer e roadie da banda de metal Korzus, diz que quando precisa de informações das bandas que gosta, sempre recorre à internet, mas não abre mão de ler revistas especializadas, como a Roadie Crew. “Gosto de avaliar se a informação é confiável, pois no Orkut costuma-se encontrar informações distorcidas, boatos”, afirma Thaís. A designer se sente muito frustrada com a cobertura que a grande mídia faz de eventos de rock. “O Korzus fez um show dia 27 de abril às 9 h da manhã na Praça da República, em São Paulo. A praça estava lotada, mas na televisão só se falava dos shows mais pops, isso me deixou frustrada. O rock tem muito público mas é vetado na mídia, eu acho”, critica.


Eventos musicais que são considerados populares por terem alcance no grande público e facilidades comerciais, conseguem, além da cobertura por parte de emissoras de rádio e televisão, algumas facilidades financeiras, como aponta Raquel Camargo, jornalista do site Cifra Club e editora do blog F5 em Você. “A organização do Axé Brasil conseguiu com um deputado uma verba de R$400mil com a justificativa de que o evento possibilitaria a inclusão social. Entretanto, os ingressos para o Axé Brasil 2008 custavam em média R$180. Então fico tentando descobrir onde entrou a inclusão social, já que os ingressos eram tão caros”. Além do investimento, o evento também contou com uma extensa cobertura em canais como a Globo, durante os três dias do evento.


Banda Tênis


A principal queixa das bandas independentes é a falta de espaço na mídia para cobertura de eventos, já que na distribuição de material (músicas e fotos) a internet cumpre o papel de fazê-las conhecidas junto ao público. “Minha banda não deseja alcançar o mainstream. Queremos ter fãs, um público grande, claro, mas não pensamos em assinar com uma gravadora. Aliás, hoje em dia ninguém precisa de gravadora, pois temos a internet”, diz Taís Oliveira, baterista da banda de indie-rock Tênis e ex-apresentadora do programa de TV Microfonia. Ela acredita que ser independente não significa ser desconhecido. “O Calypso, por exemplo, é uma banda independente e bastante famosa”, afirma.


Algumas publicações, como a revista Roadie Crew, sobrevivem à esse movimento na internet direcionando seu conteúdo a um público específico “Seguimos uma linha editorial fundada em Classic Rock e Heavy Metal. Para cada edição, procuramos fazer uma boa combinação, dando espaço à maior quantidade possível de estilos”, diz Thiago Sarkis, principal entrevistador da revista. Apesar de trabalhar em um veículo da mídia tradicional, Thiago acredita que grande parte do que a mídia – não especializada – divulga é de má qualidade pela falta de preparação dos profissionais destacados para as coberturas. “O problema são as pessoas que sequer conhecem ou pesquisam sobre aquilo que vão cobrir. Não sabem daquilo que estão falando, mas, por uma razão ou outra, sentem-se no direito de falar bobagem em veículos importantes e formadores de opinião.”, afirma. Um bom exemplo foi a cobertura do primeiro Rock in Rio, feita pelos jornalistas Pedro Bial e Glória Maria. Pelo desconhecimento do comportamento do público de rock nos shows, os jornalistas confundiram uma roda de mosh com uma briga violenta, e acabaram sendo responsáveis pelo termo pejorativo “metaleiro”, ao se referirem ao público do evento.


O nome correto é Headbanger, e não Metaleiro.


Na outra face da moeda estão os veículos que também são independentes, mas que encontram dificuldades na cobertura dos shows que acontecem no país. Vários sites são criados a partir da iniciativa de amigos que buscam divulgar e apoiar o cenário underground no país. Este é o caso do Metal Clube.com, que hoje é o maior site do gênero em Minas Gerais. O editor, Rafael Santos, diz que as dificuldades são as mesmas do início, mesmo após três anos com o site no ar: falta de experiência no ramo jornalístico, dificuldades com a estrutura e falta de apoio de assessorias dos músicos e shows. Muitas produtoras dão espaço a veículos já conhecidos, suprimindo a oportunidade de sites com menos nome no ramo. Como somos um site regional, às vezes é negada nossa participação em determinado evento por desconhecimento das produtoras.”, afirma Rafael.


O guitarrista Wanderson Rodrigues


O mesmo costuma acontecer a sites maiores. João Paulo Andrade, editor do maior site de rock e heavy metal do país, o Whiplash.net, diz que muitas assessorias tratam o veículos de internet de forma diferente do que fazem com revistas especializadas no mesmo gênero. “Existem muitos sites de fundo de quintal, então o meio fica queimado. Quem não é internauta em tempo integral dificilmente vai conseguir separar o joio do trigo e termina seguindo o caminho mais fácil que é achar que a maioria dos sites é menos profissional que a maioria das revistas.”, diz João Paulo. Já Thiago Sarkis diz que a Roadie Crew conseguiu superar grande parte das barreiras de um veículo que lida com o underground, pois conseguem credenciais para cobertura de eventos e agendam entrevistas com bandas mais famosas. “Sei que com os sites e blogs não é assim, e há dois culpados nessa história: muita gente malandra que realmente monta site pra ganhar cortesia para show e CD de graça e muita gente que organiza shows e assessora músicos, mas que ainda não chegou ao século XXI. Quem ignora a existência de blogs e sites de alta qualidade e com número de leitores até superior ao de muitas revistas não sabe que há público lendo internet o dia inteiro”, afirma.

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Este post está participando do Projeto Blogueiro Repórter. Infelizmente, por restrições no tamanho da matéria para a participação neste projeto, não foi possível incluir todas as falas dos entrevistados. Por isso - e porque eu recebi muitas respostas legais para as perguntas - irei fazer uma outra matéria com o restante dos dados que coletei.

Agradeço a todos que ajudaram: Raquel, Rafael, João Paulo, Thiago, Taís e Thaís. Valeu!


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4 comentários:

Osc@r Luiz disse...

A internet no contexto da música é uma situação irreversível (graças da Deus!).
Não falo de pirataria propriamente dita, mas não fosse a internet eu não teria conhecido por exemplo "Dropkick Murphys" e não teria comprado deles todos os discos que encontrei até hoje. Mas as "temidas" mp3 foram fundamentais nesse processo.
Assim, muita coisa boa da cena do rock veio à tona e espero que assim continue.
Parabéns pela sua postagem e participação no Blogueiro Repórter. Também estou participando com um post sobre o "Horário de Verão". Vou enviar o link, caso possa interessar.
Um abraço.

Anônimo disse...

Ei Suelen,
tudo legal?
Parabens pelo texto.
Acho que você se enganou com relação à minha citaçao. Se olhar direitinho, nas minhas respostas, não há o "acho um absurdo isso".
Por favor, dá uma corrigida! :)

Anônimo disse...

Raquel, desculpa ter colocado o "acho isso um absurdo" na sua fala. Isso aconteceu na edição, porque eu tinha colocado algumas coisas que você escreveu no post (onde fala que achou um absurdo) misturadas com algumas coisas da resposta que você me mandou (onde fala que se igndiga com isso). Como meu texto tava muito grande e o limite era de 5200 caracteres, acabei retalhando um monte de coisa e errei aí. Desculpa. Já consertei no blog.

Acabou que a matéria não ficou como eu queria, várias coisas legais que você e outros entrevistados falaram acabaram ficando de fora por falta de espaço mesmo. Vou fazer outra matéria para o blog com o restante das coisas.

De qualquer forma, obrigada!
Até mais.

Fábio Melo disse...

Mas será que todas as bandas querem sair do underground? Tipo, existe o mito de que "virou mainstream, virou comercial" que faz com que muitos fãs menos esclarecidos achem que as bandas tem menos qualidade quando passam a ter um grande alcance.

Justamente o que eu acho bacana na internet é a maneira como ela atinge bem os nichos específicos, o que no fim é muito bom para as bandas. Bons grupos independentes acabam se destacando no seu meio, de uma maneira bem específica, porém eficaz. Isso sim acho mais importante que entrar na grande mídia. Conquistar fãs fiéis, que apreciam a qualidade musical das bandas, e não a maneira como eles se tornaram populares. Ir para o mainstream deveria ser uma consequência, não um objetivo. Nesse aspecto acho que as bandas independentes não tem o que reclamar, pois como você disse, a internet tem assumido muito bem o papel de divulga-las.

(By the way, votei no seu texto no "blogueiro repórter" =P . Também tô com um texto por lá)

TemPraQuemQuer