23.2.12

Agridoce

E aqui estou mais uma vez.

Estou escrevendo um projeto super complexo pra mim e já estou me perdendo no meio de tantas palavras... Resolvi dar uma pausa no trabalho para jogar pra fora outras palavras que ficam emperradas nas idéias aqui.

Estive relendo aquele livro do Bob Wolfenson, "Cartas a um jovem fotógrafo"... li um tempo atrás e como estou num momento chave do início da carreira, prestes a dar um passo importante, resolvi voltar ao texto dele para pescar mais algumas coisinhas... Não que seja um primor de literatura (pô, o cara é fotógrafo, não escritor...), ou que o trabalho do Bob seja muita referência para o que eu quero do meu trabalho (não penso em trabalhar comercialmente com moda), mas ele é um cara tão bacana, mas tão bacana, que eu achei que valeria a pena. E estive certa!

Antes de falar o que peguei de tão legal nessa segunda lida, queria fazer um adendo: conheci o Bob pessoalmente no festival Foto em Pauta do ano passado, em Tiradentes. A ocasião foi muito engraçada: as atividades oficiais daquele dia já tinham se encerrado e estavam todos se preparando para as atividades, digamos, extracurriculares nos bares da cidade... hehehe... Eu, caminhando despretensiosamente pela rua, topo com o Gal Oppido (fotógrafo que estava dando o workshop que eu estava participando) e paro para cumprimentar. Ele estava conversando com mais duas outras pessoas, e como eu não fui apresentada de início, não reparei quem era. Como fiquei ali mais uns 5 minutinhos, acabei eu mesma me apresentando, naquele roteiro básico: "Oi, prazer! Eu sou a Suelen, tudo bem?". No que um deles vira e fala, também no roteiro básico: "Oi Suelen, tudo ótimo, e vc? Eu sou o Claudio". Fiz o mesmo com o outro, que me surpreendeu: "Oooooiii, Suelen! Então você que é a Suelen, que posou pelada para o Gal?". 

20 segundos de silêncio. 

Oi?

Acontece que eram, ninguém menos que Claudio Edinger e Bob Wolfenson! E o Bob já me conhecia antes mesmo de eu me apresentar, pq, ao que parece, o assunto de logo antes de eu chegar era o workshop que o Gal estava dando e que eu participei e, como ele mesmo disse, posei nua para umas fotos. Apesar de achar suuuper estranha a situação da minha fama repentina (ahahahaha), não vou negar que fiquei feliz, porque isso parece que abriu um canal mais próximo de comunicação com eles (sério, o cara fez os ensaios mais legais e inovadores da história da Playboy e Vogue; se ele quisesse me fotografar pelada eu tirava a roupa ali na hora. Sério!). Todos os dias que eu encontrava com o Bob ele dava um jeito de me dar uma zoadinha de leve, o que aproximava bem o cara de um reles mortal (que é o que ele é, na verdade, apesar de ali no contexto ele estar na situação de ídolo da garotada) e tornava a conversa menos travada e eu acabava tendo espaço de zoar de leve tb. Quase nem falamos de fotografia, só assuntos triviais mesmo. Achei muito bacana, inclusive.

Daí, uns dois dias depois era O grande dia do festival. No palco estariam lado a lado os dois maiores ícones da fotografia de moda brasileira: Bob Wolfenson e J.R.Duran. Os dois no mesmo palco. O dia mais esperado, a palestra mais lotada, com fila na porta duas horas antes de começar... Todos sabem que rola meio uma rixa entre os dois, mas a razão é simples: o Bob é um fofo e o J.R. é um escroto, só isso. Nenhuma novidade. Mas todos queriam ver isso acontecer ao vivo!

Durante a palestra do Bob ele contou como começou na carreira de fotógrafo (coisa que ele conta no livro, mas eu ainda não tinha lido) e disse uma pá de coisa muito, muito legal mesmo, que me tocou muito fundo e eu fiquei ao mesmo tempo maravilhada e confortada, pq eu sabia que se deu certo pra ele haveria de dar certo pra mim também, que o início da carreira é sempre estranho mesmo, mas que com o tempo as coisas se ajeitam. No final da apresentação dos dois eu fui lá no palco cumprimentá-los e, como esperado, o J.R. me ignorou (hahahaha... ele já fez isso no twitter, foi super sem educação comigo, então nem me importei). Ele só tava a fim de arrumar um novo assistente, então já me pulou direto. O Bob continuou sendo gracinha. Quando eu falei para ele que o que ele havia dito fez toda a diferença na minha vida, ele me agradeceu. Olha só: ELE ME AGRADECEU! Disse que me daria um presente e me deu 3 edições da revista-livro S/N. Fiquei tão encantada que pedi um autógrafo! ahahahaha

Ele abriu a revista (uma com a Gisele Bundchen na capa e escreveu: "Para a Suelen, querida colega de profissão. Um beijo. Bob."

Morri!
Oi? Colega de profissão?

Juro que a partir desse instante eu parei de me sentir menos que os outros e comecei a me colocar em pé de igualdade, mesmo que meu trabalho não tenha tanta expressão. Foi um passo muito importante para o meu posicionamento profissional! Aproveitei para agradecer também ao Eugênio Sávio, que foi meu primeiro professor de fotografia e idealizador do Foto em Pauta, por tudo. Por ter me ensinado a fotografar, por ter me aguentado pentelhando ele nos corredores da faculdade, por ter me escutado outras tantas vezes e dado várias dicas, por ter feito esse festival maravilhoso que eu quero ir todo ano... enfim. Agradecer!

Mas eu rodeei, rodeei, rodeei e não cheguei no cerne da questão: pq essa retomada do livro do Bob foi tão importante agora.
Em uma passagem ele comenta do trabalho autoral dele que é muito pesado, são imagens fortes, algumas são escuras, meio soturnas... melancólicas... E ele conta que fez terapia durante muitos anos (ou ainda faz, não me lembro) e que realmente ele era uma pessoa introspectiva apesar de ser bastante sociável, alegre, brincalhão... Ele achava que a fotografia autoral era a vazão da tristeza que ele guardava dentro de si.

BINGO!

Pois não é que é mesmo?
Pois não é que eu sinto a mesma coisa?

Outro dia uma amiga minha (que me conhece muito bem, diga-se de passagem), enquanto eu apresentava minhas fotos observou que eu sou uma pessoa agridoce. Achei genial, quase um retrato do meu sabor. E é um sabor que eu adoro, inclusive.

Comentei com um outro amigo (que ainda está me conhecendo) e ele discordou, dizendo que eu sou uma pessoa bem, bem doce, mas que eu tenho muitas coisas interessantes que não são só a alegria, e que isso aparece claramente nas minhas fotos. Ou seja, a gente ainda está se conhecendo, mas ele já deu um sinal que eu sou absolutamente legível através das minhas imagens também. Eu sou contraditória: muitas vezes doce, muitas vezes azeda e muitas vezes as duas coisas juntas. É isso.... Masssss, como ninguém são é absolutamente feliz ou absolutamente triste (e eu me considero uma pessoa sã - pelo menos foi o que o analista disse, hahaha) posso perfeitamente usar a arte para dar vazão a toda essa melancolia dentro de mim, que me oprime às vezes.

Engraçado que, agora, lembrando do Bob e lembrando do que o Tiago (meu analista) falava... isso faz TANTO sentido... Acho que todo mundo que se mete com a arte tem um pouco disso, né? Não é à toa que eu dei o nome pra esse blog de Drama Barroco (pq minha vida é dramática e minhas imagens são barrocas)!

Olha o que esse cara aí embaixo tem a dizer sobre isso de tristeza e alegria. Vai com legendas em espanhol em homenagem ao amigo que me acha bem, bem doce e que diz que eu tenho um sorriso com uma força ¡re linda! ;)

(E depois de saborear essa canção tão agridoce quanto eu acho que sou, vou voltar pra escritura do meu projeto que, por enquanto, é só azedo! ahahaha)



2 comentários:

Anônimo disse...

azedo

Unknown disse...

não precisa!