Um passarinho está cantando na janela e me lembrou que a falta de comunicação entre espécies foi uma das coisas mais sábias da Natureza.
Dia desses, aqui no estúdio, ouvi o barulho de algo batendo na janela.
Era um passarinho que entrou na sala mas não conseguiu sair porque a janela estava fechada. E ele ficou um tempo bicando o vidro sem entender porquê não conseguia voar pra fora.
Morri de dó e fui abrir a janela pra ele sair.
A janela é daquelas que correm pra cima, e no que empurrei pra cima a parte da baixo da janela, o passarinho - burro - ficou preso entre um vidro e outro. Chorei, esperneei, pedi ajuda, tentei abrir a janela novamente... Mas nada do que eu fazia melhorava a situação do passarinho, que ficou assim, com as duas asinhas abertas, espremido entre os dois vidros, chorando.
Enquanto eu tentava achar alguma coisa fina que pudesse me ajudar a empurrar a bundinha dele pra cima, vários outros passarinhos pousaram na árvore perto da janela e ficaram chorando, todos juntos, na mesma piada, a agonia do amiguinho preso.
Quando eu empurrava o bichinho pra cima e ele chorava mais alto - acho que de medo - os outros começavam a voar mais perto da janela.
Fiquei conversando com eles, pedindo calma, que eu já estava conseguido.
Depois fiquei nervosa e mandei eles todos calarem o bico porque estavam deixando o coitado agitado demais, e quando ele tentava voar e não conseguia, acabava escapando do suporte improvisado para ajudar, e a situação ficava ainda pior.
As pessoas em volta riam de mim, me chamavam de retardada, que deixasse o passarinho idiota morrer, que foda-se o dele que não viu o vidro e etc. Fiquei espantada com a covardia e falta de amor ao próximo. O passarinho é uma vida. Pequena, mas talvez com mais propósito que a nossa.
No fim das contas, consegui soltar o passarinho, que saiu voando com os amigos - provavelmente contando a vantagem de ter sobrevivido ao "ataque" humano.
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Se há uma sensação que eu odeio ter é a de passarinho preso na janela.
Quando a gente sofre algo que não é culpa nossa.
Vemos todo o mundo e todas as possibilidades à frente e não conseguimos nos mover.
Aparece algo que parece querer nos ajudar, mas entendemos como uma coisa ruim.
No final a gente se solta, mas não sabe bem de quem é o mérito.
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Ontem foi a vez da libélula. O Léo insistiu que o corpinho dela era durinho e que não ia entrar no meio dos vidros, que a gente podia abrir a janela que ela ia voar pra fora.
Eu insisti.
Ele insistiu.
Ok, abrimos e janela e adivinha: mais um bicho preso entre os vidros. Com o corpinho dobrado e as asinhas abertas. Já aconteceu com borboletas, mariposas, mosquitos.
Após conversas e mais conversas com a libélula, ela resolveu cooperar e ajudar a gente a libertá-la.
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Na quinta série eu li um livro na escola que chamava "Com lagartixa não tem conversa". A história de um garotinho sem amigos, filho único, que morava num prédio onde não se podia brincar na garagem. Tadinho. Daí ele ficava conversando com uma lagatixa daquelas bem transparentes, que aparecia todo dia atrás da cortina da sala.
Mas ela nunca respondia.
Claro.
Dia desses, aqui no estúdio, ouvi o barulho de algo batendo na janela.
Era um passarinho que entrou na sala mas não conseguiu sair porque a janela estava fechada. E ele ficou um tempo bicando o vidro sem entender porquê não conseguia voar pra fora.
Morri de dó e fui abrir a janela pra ele sair.
A janela é daquelas que correm pra cima, e no que empurrei pra cima a parte da baixo da janela, o passarinho - burro - ficou preso entre um vidro e outro. Chorei, esperneei, pedi ajuda, tentei abrir a janela novamente... Mas nada do que eu fazia melhorava a situação do passarinho, que ficou assim, com as duas asinhas abertas, espremido entre os dois vidros, chorando.
Enquanto eu tentava achar alguma coisa fina que pudesse me ajudar a empurrar a bundinha dele pra cima, vários outros passarinhos pousaram na árvore perto da janela e ficaram chorando, todos juntos, na mesma piada, a agonia do amiguinho preso.
Quando eu empurrava o bichinho pra cima e ele chorava mais alto - acho que de medo - os outros começavam a voar mais perto da janela.
Fiquei conversando com eles, pedindo calma, que eu já estava conseguido.
Depois fiquei nervosa e mandei eles todos calarem o bico porque estavam deixando o coitado agitado demais, e quando ele tentava voar e não conseguia, acabava escapando do suporte improvisado para ajudar, e a situação ficava ainda pior.
As pessoas em volta riam de mim, me chamavam de retardada, que deixasse o passarinho idiota morrer, que foda-se o dele que não viu o vidro e etc. Fiquei espantada com a covardia e falta de amor ao próximo. O passarinho é uma vida. Pequena, mas talvez com mais propósito que a nossa.
No fim das contas, consegui soltar o passarinho, que saiu voando com os amigos - provavelmente contando a vantagem de ter sobrevivido ao "ataque" humano.
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Se há uma sensação que eu odeio ter é a de passarinho preso na janela.
Quando a gente sofre algo que não é culpa nossa.
Vemos todo o mundo e todas as possibilidades à frente e não conseguimos nos mover.
Aparece algo que parece querer nos ajudar, mas entendemos como uma coisa ruim.
No final a gente se solta, mas não sabe bem de quem é o mérito.
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Ontem foi a vez da libélula. O Léo insistiu que o corpinho dela era durinho e que não ia entrar no meio dos vidros, que a gente podia abrir a janela que ela ia voar pra fora.
Eu insisti.
Ele insistiu.
Ok, abrimos e janela e adivinha: mais um bicho preso entre os vidros. Com o corpinho dobrado e as asinhas abertas. Já aconteceu com borboletas, mariposas, mosquitos.
Após conversas e mais conversas com a libélula, ela resolveu cooperar e ajudar a gente a libertá-la.
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Na quinta série eu li um livro na escola que chamava "Com lagartixa não tem conversa". A história de um garotinho sem amigos, filho único, que morava num prédio onde não se podia brincar na garagem. Tadinho. Daí ele ficava conversando com uma lagatixa daquelas bem transparentes, que aparecia todo dia atrás da cortina da sala.
Mas ela nunca respondia.
Claro.
2 comentários:
São por coisas simples assim que eu te amo cada vez mais...
Nossa... Acho que preciso visitar aqui mais...
Bom... Queria conhecer o menino do livro que você leu na quinta série e apresentar para ele o livro "O vendedor de passados". A história é contada por uma... L-A-G-A-R-T-I-X-A!!!
Bom...enfim...
Parabéns pelo blog!
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