O cigarro. O cd. Marina.
Acende um cigarro, leva-o à boca lentamente, observando os desenhos que a fumaça faz no ar quase rarefeito do quarto do hotel.
Ele já foi. Assim, num rompante. Levantou-se e foi, deixando Marina recostada à cabeceira da cama.
Ela olha de soslaio para o livro sobre o criado-mudo, mas não gosta da capa. Parece tratar de um tema pouco romântico, e isso Marina não suportaria. Não naquele momento.
A música ainda toca no computador repousado sobre a mesa. Algum sucesso dos videoclipes. Marina não move um músculo, exceto os necessários para levar seu cigarro de encontro aos lábios. Mas não tem força suficiente pra sugar. Essa música já tocou mil vezes, pensa.
O cheiro é inútil. Sexo passado e fumaça do cigarro de cravo. Não parece que alguém havia feito amor naquele lugar. Jamais.
Nem amor nem sexo. Mas Marina sim.
Os desenhos na fumaça estão mais interessantes que o ato de fumar. As cinzas que caem quentes a lembram que sua pele ainda vive.
Revira os olhos tentando enxergar por dentro seu grande vazio. Reúne o resto de suas forças e se preenche com a fumaça. Prende a respiração para enxergar melhor. Vê, lá no fundo, um resquício do passado.
A natureza é feita de padrões, pensa. Nada mais natural que a repetição.
Olha novamente para a fumaça e se deixa levar pelo movimento, que guia seu olhar até a porta, entreaberta. Ele vai voltar.
Marina espera, como sempre esperou. A vida é feita de padrões.
Dá seu último suspiro, enchendo o peito de fumaça, sexo e esperança. Dorme um sono pesado, sem sonhos.
Derruba o toco do cigarro aceso no lençol manchado do amor que fez sozinha. Morre em meio ao calor que ficou reprimido nela toda a vida que perdeu.
Acorda de um pulo. Olha para o lado e o vê ali, ressonando, recostado à cabeceira.
Com o coração ainda na boca, olha de soslaio para o criado-mudo e encontra o maço de cigarros sobre o livro.
Reúne o resto de suas forças e leva um cigarro à boca, segurando apenas com os lábios. Procura pelo isqueiro. Acende. Outra vez essa música, pensa.
Traga quase todo o cigarro de um só fôlego. Inunda o quarto com fumaça.
Levanta e sai, nua, deixando a porta entreaberta.
Acende um cigarro, leva-o à boca lentamente, observando os desenhos que a fumaça faz no ar quase rarefeito do quarto do hotel.
Ele já foi. Assim, num rompante. Levantou-se e foi, deixando Marina recostada à cabeceira da cama.
Ela olha de soslaio para o livro sobre o criado-mudo, mas não gosta da capa. Parece tratar de um tema pouco romântico, e isso Marina não suportaria. Não naquele momento.
A música ainda toca no computador repousado sobre a mesa. Algum sucesso dos videoclipes. Marina não move um músculo, exceto os necessários para levar seu cigarro de encontro aos lábios. Mas não tem força suficiente pra sugar. Essa música já tocou mil vezes, pensa.
O cheiro é inútil. Sexo passado e fumaça do cigarro de cravo. Não parece que alguém havia feito amor naquele lugar. Jamais.
Nem amor nem sexo. Mas Marina sim.
Os desenhos na fumaça estão mais interessantes que o ato de fumar. As cinzas que caem quentes a lembram que sua pele ainda vive.
Revira os olhos tentando enxergar por dentro seu grande vazio. Reúne o resto de suas forças e se preenche com a fumaça. Prende a respiração para enxergar melhor. Vê, lá no fundo, um resquício do passado.
A natureza é feita de padrões, pensa. Nada mais natural que a repetição.
Olha novamente para a fumaça e se deixa levar pelo movimento, que guia seu olhar até a porta, entreaberta. Ele vai voltar.
Marina espera, como sempre esperou. A vida é feita de padrões.
Dá seu último suspiro, enchendo o peito de fumaça, sexo e esperança. Dorme um sono pesado, sem sonhos.
Derruba o toco do cigarro aceso no lençol manchado do amor que fez sozinha. Morre em meio ao calor que ficou reprimido nela toda a vida que perdeu.
Acorda de um pulo. Olha para o lado e o vê ali, ressonando, recostado à cabeceira.
Com o coração ainda na boca, olha de soslaio para o criado-mudo e encontra o maço de cigarros sobre o livro.
Reúne o resto de suas forças e leva um cigarro à boca, segurando apenas com os lábios. Procura pelo isqueiro. Acende. Outra vez essa música, pensa.
Traga quase todo o cigarro de um só fôlego. Inunda o quarto com fumaça.
Levanta e sai, nua, deixando a porta entreaberta.
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