18.11.06

drama...

antes de começar a destilar aqui minhas vilezas, meus dramas, como é o propósito desse "lugar", quero colocar mais uma do fernandão, que sempre fala tudo que eu quero dizer, sem jamais emitir palavra.

a gente colhe o que planta, eu sei. mas por quê, ó destino, que certas chagas nunca curam? por quê, passado, sempre que volta à tona só serve para trazer junto um veredicto sentencioso?

o pior é saber que a gente erra sem saber porque, insiste no erro sem saber porque e, simplesmente, continua sem saber como não mais fazê-lo... por quê que eu tenho que ser tão burra? tão ridícula? tão infame? eu, realmente, não mereço.. não mesmo.

lá vai o fernandóvski:


POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem
pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta
terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos



triste.. triste...

então eu penso, não a respeito de como sou demasiadamente humana, mas sobre as coisas que me chateiam por me fugir do controle. aquelas coisas que tem a ver com o passado e que nada podemos fazer pra evitá-las, porque só se evita o futuro...
penso sobre aqueles arrependimentos, de quando a gente, ao mesmo tempo, se entrega por um crime que não cometeu e assina uma sentença eterna...

penso e leio as cartas. e me sai:


daí eu fico pensando.. o que será que isso quer dizer? será que quer dizer o mesmo que aqui? que eu tenho que abandonar o velho de vez para que o novo possa dar certo, ou essa carta se refere exclusivamente ao novo que não é absolutamente saudável? porque eu não fiz uma pergunta em específico, foi apenas para me esclarecer sobre a atual situação. mas levando em consideraçãoo que foi exaustivamente discutido hoje, penso que diz mesmo a respeito de abandonar o velho. mas eu não vejo forma de abandonar ainda mais o velho.

mas pelo bem do meu coração, e alheio também, me disponho a abandonar ainda mais - ainda que creio não ser possível. simplesmente não consigo ignorar a existência das pessoas...

tamo aí pra ver no que que isso vai dar...

4 comentários:

paula r. disse...

dizem que só abandonamos o velho quando o novo vale muito a pena. eu discordo, acho que aceitar o novo tem muito a ver com relação com o velho, não sendo necessariamente uma relação de abandono.
mas que sei eu, não é? eu só pergunto.

Anônimo disse...

. . .

Anônimo disse...

. . .

thaispimenta disse...

eu procuro sentir o novo todos os dias como novo.

o velho ainda pode ser novo, mas só até eu saber que ele está lá atrás e não sentir vontade (muito menos necessidade) de me virar.

e fernandão fala tanto e tão pouco.
eu amo um monte!
vc e fernandão!